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Mostrando postagens de maio, 2020

Fundação

 Fundação: aprendizes explicam o que é As porradas, não só do macho contra a fêmea, mas também da fêmea que se revela macho quando é desenterrada, incomodam o ouvido, mas progressivamente vão gerando prazer. É como a escrita, também incomoda, gélida. Mas progressivamente vai sendo relido (quebrar o verso pra relido ficar suprassumindo gélida) e gerando prazer. Machos e fêmeas ao infinito se revelam in nuce Pensar na pedagogia criticada como curso de mulher à espera do casamento, como fazer produção escrita com isso? Pontos: Espírito de pai suprassumido do espírito de mãe Gênero notas para dar aula Possibilidade de manipulação da prosódia, transformando a paroxítona em proparoxítona e vice-versa, ao rimar gélida e relido Patrono da Educação Brasileira

Doppelgänger

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Me desculpem, mas não deu mais. A velhice neste país é o caos, como tudo aqui. A humanidade não deu certo. Eu tive a impressão que foram 85 anos jogados fora num país como este. E com esse tipo de gente que acabei encontrando. Cuidem bem das crianças de hoje! Flávio Migliaccio Ei Gu, tudo bem? Li o texto que você me mandou no último e-mail, mas tinha de ver as obras analisadas pra confirmar. Será que essas obras de agora, em vez de reproduzirem o real, elas tornam o real visível, como propunha o Klee? O Klee, de vanguarda, se via como experimentador, compunha formas à primeira vista sem sentido, mas havia ali equilíbrio, por exemplo, coisa a ser aproveitada por outras áreas, a engenharia etc. A minha questão com obras do que a gente chama de contemporâneo é com a obscuridade, que se não tem fim elitista não tá com uma crítica ainda capaz de vislumbrar o alcance. Não sei. Me diga o que você acha. De qualquer forma defendo com unhas e dentes a liberdade dos artistas, pra fazerem o que qu

Star bolsystem

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Conversando com um antigo aluno meu, que é um rapaz rico, industrial, ele disse: “o senhor não pode negar que o capitalismo tem uma face humana”. O capitalismo não tem face humana nenhuma. O capitalismo é baseado na mais-valia e no exército de reserva, como Marx definiu. É preciso ter sempre miseráveis para tirar o excesso que o capital precisar. E a mais-valia não tem limite. Marx diz em A ideologia alemã : as necessidades humanas são cumulativas e irreversíveis. Quando você anda descalço, você anda descalço. Quando você descobre a sandália, não quer mais andar descalço. Quando descobre o sapato, não quer mais a sandália. Quando descobre a meia, quer sapato com meia, e por aí não tem mais fim. E o capitalismo está baseado nisso. O que se pensa que é face humana do capitalismo é o que o socialismo arrancou dele com suor, lágrimas e sangue. Hoje é normal o operário trabalhar oito horas, ter férias... tudo é conquista do socialismo. Antonio Candido Numa sala de ensaio em que predomina o

Soliloqueira

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É necessário perguntar como é que o caráter inegavelmente racional da atividade se concilia com seu aspecto irracional, também inegável. [...] um analista fez notar ironicamente que um avião era certamente um símbolo do pênis, mas que também podia servir para voar de Berlim até Viena. Wilhelm Reich Se nós podemos trabalhar, nós também podemos nos manifestar. Trabalhadores chilenos em tempos de Covid PARTE I Aqueles eram dias assombrosos para Soliloqueira. Na última noite, ela tinha tido um pesadelo horrível. Um doido entrava em sua casa de tempos em tempos e destruía tudo. Um doido que era amigo da polícia, maníaco bizarro que se ela enfrentasse chegariam os fardados, mesmo à paisana, e ajudariam no assolamento. Mas Soliloqueira não encarava a polícia. Quens encaravam eram os vizinhos chilenos, que enfrentavam o doido e tinham de enfrentar também a polícia. No fim, Soliloqueira, espiando o corredor da área comum do prédio pela fechadura, era descoberta pelo mais condecorado dos policia

Amor épico

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Para a mestra açu-Icê. Em timidez gaiata, à Bia, minha encenadora, perguntei: – E em amor épico, acreditas? Bia sorriu um discretíssimo sim, disse que não. Na certa não queria se identificar. Só eu terei percebido? Não, não foi fantasia, porque ela me deu conselhos de Beauvoir: pacto sem páthos nem aparência social e um ao outro tudo confiar. Rimou, sim, mas não quero que se torne poesia assim, é épico o amor. É de muita risada juntos, o amor. – E essa gente irracional na rua, toda trabalhada no nonsense, bancando a doida no meio da bubônica? – eu pergunto. E ela me responde, austeramente dissimulada, como uma Cassandra surpresa, “Quem diria, hein: bolsoafetivos na peste performativa, fazendo Artaud”. Irritam-nos os atravancados em binarismos de tipo sujeito-objeto, positivo-negativo, ideal-material, por isso produzo, para compartilhar com ela, uma traquinagem: “Queres ver esses raciocinantes desses intelectuais darem tilte? Pergunte a eles a diferença entre lugar de merda e merda de l

Efeito disensemble

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O efeito V é um artifício antigo, conhecido da comédia, de certos ramos da arte popular e da prática do teatro asiático. Brecht Cerveja é algo que só serve para nos deixar barrigudos. É uma das armas do capitalismo para causar vícios na população. Hugo Chávez – Você toma vergonha nessa tua cara, seu liberalzinho de boteco de esquina de bairro. Sabe onde você enfia lei de oferta e procura? Essa caralha de especulação? – Mas não... – Não. Negativo. Escandindo, que é pra você fechar essa matraca: ne-ga-ti-vo. Não vai falar nada. Você cala essa tua boca. Agora você vai escutar. Do que é que você precisa por mês? Um saco de arroz, dois de feijão, não sei quantos quilos de carne, pote de palmito, variedade de iogurte? Anota. Faz uma lista. A humanidade já tem tecnologia suficiente pra atender de modo organizado as demandas sociais. Ou você tá achando que o produto do trabalho é bagunça? Que você vai jogar lá contando com a sorte de alguém querer, sem saber se precisam ou não? O que é isso? J