Pensamento em Cena

Espetáculo teatral da Companhia Luna Lunera. Encenação assistida entre 31 de março e 16 de junho de 2016, em Belo Horizonte. A imagem que ilustra este post foi retirada do site do Centro Cultural Banco do Brasil:  http://culturabancodobrasil.com.br/portal/urgente/ . O verbete “Peça-paisagem” recorre ao termo cunhado por Gertrude Stein para elucidar o espetáculo feito para estar-aí. Episódios que se sucedem aleatoriamente diante do público não devem ser confundidos com peças soltas de um quebra-cabeças – que ganhariam forma se colocadas em ordem – nem precisam se submeter a um processo de interpretação que desvende sua mensagem. Ana Portich Formular um conceito de Urgente , do Luna Lunera, demandaria organizar as cenas embaralhadas. Trata-se de um drama que, em sentido moderno, só se nega formalmente, o que o impede – intencionalmente, suponha-se – de se suprassumir para o épico. No fim das contas, tudo se sintetizaria na hipérbole pequeno burguesa do cara que roubou uma pulseira de str

Espetáculo teatral da Companhia do Feijão. Encenação assistida em 18 de junho de 2016, em São Paulo. As fotos que ilustram este post foram retiradas da ficha técnica do espetáculo:  http://www.companhiadofeijao.com.br/espetaculos-2/armadilhas-brasileiras/ . Formado na estética da sobriedade europeia, eu não admitia os extravasamentos, pra mim de mau gosto. Custei a incorporar os excessos tropicais. Sábato Magaldi Em cena está um grupo de teatro (e, portanto, estamos falando em metateatro) que se propõe a encenar “Café”, de Mário de Andrade (o texto teatral que se encontra em Poesias completas ), representação de um levante contra os proprietários do café ali naquela confusão que se seguiu da crise de 1929. Só que falta coragem de ir adiante e levar a revolução pra cena. Dividida em dois blocos, Armadilhas brasileiras começa com seus atores-narradores firmes no propósito de um teatro político, questionador das causas e consequências da exploração da classe trabalhadora. Em projeção de

Espetáculo teatral do Grupo Espanca! Encenação assistida na estreia, em setembro de 2014, e depois de novo, entre 11 e 22 de fevereiro de 2016, ambas as vezes em Belo Horizonte. A imagem que ilustra este post foi retirada da ficha técnica do espetáculo:  http://espanca.com/c/pecas/dente-de-leao/ . O tempo aparece, pois, como o destino e a necessidade do espírito. Hegel O metateatro do Espanca! expressa a insatisfação do grupo enquanto classe trabalhadora do teatro. “O que a gente está fazendo aqui?” é a pergunta do momento, prenúncio de abalo sísmico na política (que vem se confirmando) posto também por outros grupos, como, por exemplo, o Feijão, com o Armadilhas brasileiras . Em Dente de leão , “O que a gente está fazendo aqui [na escola]?” é metáfora de “O que a gente está fazendo aqui [no palco]?”, relação que inclusive enuncia no teatro o seu caráter didático. Trata-se de três garotos que matam aula em ato de rebeldia contra formalismos , questionando sobre a marca escatológica des

Espetáculo teatral da Companhia do Latão. Encenação assistida em 9 de julho de 2016, em Belo Horizonte. As imagens que ilustram este post foram retiradas da ficha técnica do espetáculo:  http://www.companhiadolatao.com.br/site/o-pao-e-a-pedra/ . Quando um bebê nasce, a primeira palavra que se lhe ensina é “mamãe”, porque a genitora, insistente na repetição do termo, quer essa espécie de nobreza: ela quer o título. Verlaine Freitas O pão e a pedra é a história da operária Joana d'Arc, digo, Joana Paixão, uma mulher que, condicionada pelo machismo da estrutura familiar burguesa, só na metamorfose para homem consegue se realizar de maneira “independente” (como mãe). Em função dessas repressões de classe, ela recalca o desejo de revolução, encarnando, na figura masculina, o papel de feitor. Algo do desejo recalcado inclusive escapa como negação e metáfora em diversos momentos da personagem, incluindo-se, aí, um pesadelo com o espectro do marido superegoico, desaparecido dois anos ante