Pensamento em Cena

Espetáculo da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz. Encenação assistida em 17 de novembro de 2019, em São Paulo. As imagens que ilustram o espetáculo neste post foram retiradas da página do grupo no Facebook:  encurtador.com.br/hstJQ . Bem se vê que não andas corrente nisto das aventuras; são gigantes, são; e, se tens medo, tira-te daí, e põe-te em oração enquanto eu vou entrar com eles em fera e desigual batalha. Dom Quixote Não é porque somos marxistas, dialéticos, mas porque é mais vivo, mais humano. Helena Albergaria Mesmo em se tratando da catarse, Brecht a defende como técnica passível de ensinamento e aprendizado. É isto o que demonstra um espetáculo como este do Ói Nóis: feito para emocionar do início ao fim, ao mesmo tempo explicita a técnica que torna a emoção possível. Tudo isso já se enuncia no cenário de gênio pesquisador, com os quatro braços do gigante – ou as velas do moinho de vento –, fora gigantescas engrenagens que fazem barulho de maquinaria ao se porem em movim

Palavras e construções arcaicas ou não germânicas criam distância, e uma linguagem por vezes extremamente coloquial, bem como a variação dos níveis de estilo, provocam pequenos choques. Anatol Rosenfeld sobre a poesia de Brecht A mulher de um comerciante às vezes é digna de ser a de um príncipe e frequentemente a de um príncipe não vale a de um artista. Balzac Dois ganchos que encerram o primeiro capítulo de uma telenovela (ou, dependendo do orçamento e da grade, o primeiro bloco do primeiro capítulo de uma minissérie): 1- (Na transição da madrugada para o amanhecer, o livro Gender trouble , de Judith Butler, na cabeceira, transforma-se em Tretas de rabo , de Judite Mordomo. O rabo de Branca, longo, revela-se sob o lençol e cai pra fora pela lateral da cama. Ela acorda, encara o novo membro e se assusta, caindo do colchão.) Branca (pegando no próprio rabo) – Meu Deus, o que é isso? 2- (Istanley acorda com a roupa de hospital aberta nas costas. Olha em volta. Está sozinho, deitado sob

Entrevista concedida pela pesquisadora Iná Camargo Costa ao Pensamento em Cena. Aqui a dialética é inspirada no romance O dinheiro , de Émile Zola, obra em que a estrutura descritiva se incorpora à ação por meio do mexerico, “dizem”, “diziam”, “rezava a lenda”, “há um burburinho”. Em O dinheiro , a boataria é a estratégia de manipulação da especulação financeira e ao mesmo tempo do narrador para, com a ironia frequentemente produzida no discurso indireto livre, apresentar os caracteres, cenários, figurinos etc. (os enunciados que dão os condicionamentos sociais). Aí é contradição entre intenção e gesto que não acaba: gente que é chamada de discreta, mas se de fato o fosse não estaria na boca da fofoca narrativa... Escândalo é a fofoca tornada tediosa pela moralidade. Oscar Wilde Ministro  –  A Hannah Arendt, alcoviteira de covas ditas e desditas marxistas, anda até hoje espalhando por aí que o Brecht escreveu versos melosos a Stálin numa ode de amor, a tal da “Ode a Staline”. Tem gente

Experimento do Grupo Galpão. Investigação assistida em 10 de novembro de 2019, em Belo Horizonte. O que é característico é que ainda hoje autores particularmente reacionários procuram o significado do cinema na mesma direção, se não mesmo no sagrado, pelo menos no sobrenatural. Por ocasião do filme de Reinhardt, sobre O sonho de uma noite de verão , Werfel constata que é sem dúvida uma cópia estéril do mundo exterior, com as suas ruas, interiores, estações de trem, restaurantes, automóveis e praias, que tem impedido a ascensão do cinema ao domínio da arte. Walter Benjamin Aqui o Galpão, com cooperação de quem contribui com o conhecimento desenvolvido por pesquisas na universidade, suprassume as formas da vanguarda conquistadas nos experimentos realizados em Nós e Outros , num avanço que discute o potencial de apropriação pelos atores (mas não só pelos atores) dos meios de produção mais avançados (no caso, os meios de produção do cinema). Além disso, a exibição pública de um experiment

Segundo Marx, a principal dificuldade da investigação teórica do dinheiro seria vencida, mas não a fúria da sua paixão, quando se compreendesse a metafísica da mercadoria dinheiro e que o dinheiro tem sua origem na própria mercadoria. Jadir Antunes Os anões têm uma espécie de sexto sentido que lhes permite se reconhecerem à primeira vista. Augusto Monterroso Todos os seres pensantes terão fascínio por adversários históricos: católicos e protestantes, girondinos e jacobinos e mencheviques e bolcheviques, pra citar os meus favoritos. Quem não gostará de estudá-los, de se posicionar como se estivesse entre eles? Você vai perguntar a qualquer um: você é partidário de Danton ou Robespierre? Bernstein ou Rosa Luxemburgo? Stálin ou Trotsky? Dumas Filho ou Zola? Lukács ou Brecht? Proudhon ou Marx? Qualquer um saberá te responder, e o fará com a paixão de quem atingiu o nosso estágio elevado de espírito, especialmente por ponderar com contradições e estabelecer relações com quadros atuais. Pedr

Texto da professora Iná Camargo Costa originalmente publicado no Boletim Classista nº 14 (disponível no link  https://bclassista.blogspot.com/ ). --- Esta série de textos contém ainda a parte I e a parte II . --- No 18 Brumário , Marx faz uma observação muito pertinente para a situação em que nos encontramos: “ As revoluções proletárias [...] se autocriticam constantemente, interrompem continuamente seu curso, voltam ao que parecia resolvido para recomeçarem de novo; escarnecem com impiedoso rigor as meias medidas, fraquezas e misérias dos seus primeiros esforços; parecem derrubar seu adversário só para que este arranque da terra novas forças e diante delas se erga novamente, ainda mais gigantesco; recuam constantemente ante a magnitude infinita de seus próprios objetivos, até se criar uma situação que torna impossível qualquer retrocesso” (¹) . Períodos como o que estamos atravessando, de ascensão do fascismo, nos colocam diante da necessidade de recomeçar tudo de novo. Aqui nos lim