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Mostrando postagens de outubro, 2019

Brecht versus Lukács

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Nos dias de hoje, quando as piores previsões de Lukács sobre o irracionalismo fetichista de certa arte vanguardista se confirmam (pois agora já não é preciso se valer de qualquer ética de esquerda para justificar a epistemologia de direita), quando as piores previsões de Adorno sobre o realismo pseudo-humanista praticado pela indústria cultural se disseminam, as experiências dialéticas de Brecht seguem, acredito eu, modelares não tanto por seus resultados, mas por sua atitude exemplar de uma construção necessariamente experimental, movida pelo jogo das contradições, conjugação imaginativa de teoria e prática, de passado e futuro, de atenção autocrítica e sensibilidade para os processos dos vivos. Sérgio de Carvalho O Editor chama o Escritor em sua sala: – Acho melhor você tapear os lukacsianos transformando isso em diálogo. – Impossível. Esse conteúdo não funciona em cadeia de ação. Na verdade interrompe a cadeia de ação. – Pois então. Você vai colocar em diálogo e vai parecer que se d

Dialética do marxismo cultural - parte II

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Texto da professora Iná Camargo Costa originalmente publicado no Boletim Classista nº 13 (disponível no link  https://bclassista.blogspot.com/ ). --- Esta série de textos contém ainda a parte I e a parte III . --- O fantasma do marxismo cultural, já com este nome, teve uma segunda encarnação nos Estados Unidos do início dos anos de 1990, coincidindo com a publicação de estudos críticos e denúncias sobre as ações americanas de contrainsurgência – ou combate a comunistas – principalmente na América Central (¹) , em especial na Colômbia. Mas sua pré história é análoga à alemã e também remonta ao período que se seguiu à Revolução de Outubro de 1917. Como já tratamos deste episódio em outro lugar (²) , aqui nos limitaremos a referir à lei que deu início à perseguição de militantes de esquerda, o Espionage Act , aprovado em 1917, assim que os Estados Unidos decidiram participar da rapina da Primeira Guerra Mundial (e enviar tropas para combater a revolução soviética). Esta lei marca o iníci

Quem é você?

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Espetáculo infantil do Coletivo Toda Deseo. Encenação assistida em 1º de setembro de 2019, em Belo Horizonte. As imagens que ilustram o espetáculo neste post foram retiradas da página em que este texto foi originalmente publicado:  horizontedacena.com/quem-somos-nos . Todos nós nascemos nus. O resto é drag. RuPaul Charles O armário gay não é uma característica apenas das vidas de pessoas gays. Mas, para muitas delas, ainda é a característica fundamental da vida social, e há poucas pessoas gays, por mais corajosas e sinceras que sejam de hábito, por mais afortunadas pelo apoio de suas comunidades imediatas, em cujas vidas o armário não seja ainda uma presença formadora […] cada encontro com uma nova turma de estudantes, para não falar de um novo chefe, assistente social, gerente de banco, senhorio, médico, constrói novos armários cujas leis características de ótica e física exigem, pelo menos da parte de pessoas gays, novos levantamentos, novos cálculos, novos esquemas e demandas de sig

Dialética do marxismo cultural - parte I

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Texto da professora Iná Camargo Costa originalmente publicado no Boletim Classista nº 12 (disponível no link  https://bclassista.blogspot.com/ ). --- Esta série de textos contém ainda a parte II e a parte III . --- Marx encerra o posfácio à segunda edição do livro O capital avisando que a dialética não se deixa intimidar por nada, além de ser essencialmente crítica e revolucionária. Esta é uma tentativa de seguir seu exemplo. Marxistas que honram a própria tradição não podem aceitar a caracterização do marxismo cultural formulada pelo inimigo, assim como Marx, Engels e os companheiros da Liga Comunista não aceitaram o fantasma brandido pela santa aliança anticomunista do século XIX e por isto em 1848 redigiram o histórico Manifesto Comunista , justamente para definir comunismo nos seus próprios termos. Estamos há algum tempo desafiados a apresentar a verdade e a verdade sobre o marxismo cultural. A primeira verdade é histórica: a expressão é perfeitamente rastreável desde o programa

A vendedora de trocas

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Dar-se conta da natureza  internacional  do Capital hoje, e tomar esse dado como elemento de orientação política na perspectiva dos oprimidos, levaria a projetos políticos diferentes dos que estão aí. Roberto Schwarz O pessimismo e o realismo são a mesma coisa. Woody Allen Uma das primeiras coisas que produzi e vendi foi a dimensão de indivíduo. Com ela dava pra apagar a história, essa coisa de pertencer a grupos sociais, gerações, dinastias, muito aristocrática essa coisa. Servia pra um povo se dizer superior a outro, e pro indivíduo pouco importa ser cruzado ou bárbaro, ele quer saber de si mesmo e não de antepassados. Revolucionária, essa maquinaria chamada indivíduo, e com valor que atravanca outras revoluções: permite uma falsa democratização do conhecimento porque esvazia tudo das dimensões mais consistentes de espaço e tempo. Somos todos iguais no acesso à educação e à cultura, mas sem democratização da história, que aí já atrapalha meus singelos negócios. Podem ler um romance,